sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Planeando a sua mão

O que você teria feito se ele tivesse shovado? A pergunta acertou-me com uma onda de confusão. Eu não sabia o que teria feito, na verdade nem tinha pensado sobre isso. Então, em pânico, eu cheguei à única resposta coerente para esta pergunta: “Eu teria chorado”.

O meu Treinador não achou graça “Como você pode apostar sem fazer idéia do que vai fazer no resto da mão?”. Esta é uma pergunta muito boa, uma que eu deveria ser capaz de responder e você deveria ser capaz de responder em qualquer mão significante que você jogue.

Ter um plano para a sua mão é a chave para ter um jogo de nível decente, especialmente se você está jogando com deep stacks. É similar a outros conceitos do poker e parece até um conselho obvio, mas muitos não o aplicam ao seu jogo.

É muito fácil “desligar-se” enquanto jogamos, e acabarmos não pensando activamente, jogando no “automático”. “Eu tenho uma mão decente”, você pensa, “então vou apostar” – Então você recebe um raise e não sabe o que fazer. Frequentemente os jogadores só pensam na acção quando ela acontece, mas isto dá ao seu oponente a iniciativa na mão e você acaba perdendo oportunidades de aplicar value bets ou bluff´s. Para ser um bom jogador, é essencial que você tenha um plano para a mão. Você deve formular uma estratégia o quanto antes e tornar isso compreensivo para você. Vamos descobrir como:

Questão de tempo

Um dos grandes jogadores online e coach, Corwin Cole, recentemente foi perguntado sobre o que lhe dá vantagem sobre outros jogadores. Ele respondeu que sempre que se envolve numa mão ele tenta considerar todas as possíveis situações que suas acções podem gerar em cada street. Conforme lê este artigo, pergunte-se com que freqüência você pensa em futuras acções quando joga uma mão, e o quão frequente você apenas age no momento e reage ao que seu oponente faz…

Vamos conferir um pequeno exemplo. Você tem A-K e o flop trás K-8-6. Nesta situação você tem a melhor mão na maioria dos casos. Entretanto, se você recebe agressão no flop e no turn, isto te coloca numa situação onde você pode estar batido, mas pode ainda ter a melhor mão. Ao invés de sair apostando, só porque você tem a melhor mão, você deve planear as suas acções durante toda a mão. Por exemplo, em quantas streets você pretende tirar valor quando você tiver mesmo a melhor mão? Seu oponente é do tipo que pagará 3 streets com top pair ou mão pior? Se você for aumentado no flop, você vai aplicar um three bet ou só um flat call? Se você for aumentado nas streets futuras, isso sempre significará que seu oponente representa o nuts? O quanto você apostará em cada mão para assegurar que colocará o stack de seu oponente todo em jogo caso esteja convencido de que tem a melhor mão? Há algo que você possa fazer para disfarçar sua mão? Estas são perguntas que você precisa responder ao preparar seu plano para a mão.

Mudando de faixas

O principio de planear suas mãos é que o poker é um jogo de situação e não um jogo que pode ser jogado no piloto automático. Se você não pensar activamente num jogo de poker será muito difícil vencer. Na verdade, o melhor jogador possível não tem um estilo definido, já que ele tem de ser capaz de achar a melhor linha de acção para cada situação e se adaptar sempre. Assim, a idéia de planear sua mão não é para lhe prender a um único curso de acção, mas para considerar as diferentes possibilidades e como você pode reagir a elas.

Para darmos outro exemplo simples, digamos que você tenha A-A e está no heads up com um jogador fraco e passivo. O flop vem T-8-2 rainbow e seu plano é extrair o máximo de valor do calling station. Então, você tentará colocar todos os stacks em jogo até a última street. Você aposta no flop e é pago. O turn é um 7. Você aposta de novo e o oponente instantaneamente dá um mini-raise. O perigo agora é que você está preso ao seu plano e imediatamente pensa em colocar todo seu dinheiro em jogo como você esperava.

Entretanto, se seu oponente é mesmo muito passivo a situação agora mudou. Ele pode ter aplicado um slowplay com um trinca, ter formado um straight ou dois pares no turn, ou até mesmo estar jogando uma mão que ele pensa ser a melhor, como A-T ou J-J, de uma forma estranha. O próximo deve ser determinado através de vários factores, como sua imagem, a imagem dele, qualquer histórico contra o jogador, o tamanho dos stacks, etc. Entretanto, os dois pontos cruciais são o que você pensou sobre esta situação, e que o seu pensamento não ficou preso a um plano específico, mas se ajustou em diferentes acções. Idealmente você deveria ter antecipado esta possível situação, então você não entra em pânico pela agressão recebida no turn. Sendo assim, um pensamento mais completo seria: Eu estou tentando arrancar 3 streets de valor, mas se ele mostrar agressão em qualquer ponto depois do flop eu sei o quão passivo ele é e posso fazer um fold tranquilo.

Planejar a mão desde o inicio é vital para seu sucesso. Por exemplo, digamos que a mão foldou até você no cut-off e você considera fazer um raise. Não é o suficiente simplesmente pensar “Eu tenho Q-T, vou aumentar”. Você deve levar isso bem mais afundo e pensar nos jogadores depois de você. Com que frequência eles vão usar o three bet, qual será sua resposta a isso, com que range eles farão isso, com que range eles vão proteger o blind etc. Você precisa pensar também na acção além do pré-flop, em que tipos de flop você aplicará uma continuation bet e contra que jogadores, o quanto de valor você consegue tirar de cada um deles com o top pair no flop, e como o tamanho dos stacks de seus oponente mudará suas acções.

Uma boa regra a se empregar nos estágios inicias de uma mão é evitar jogar mãos com as quais você apostaria apenas uma vez no flop e então desistiria. Ou você coloca mais de uma aposta, como um bluff contínuo, ou não apostar desde o começo. Você só pode chegar a essa resposta planeando, jogando o préflop e analisando como você continuará em diferentes texturas de flop com sua mão contra diferentes oponentes que você tem enfrentado.

Através das streets você deve continuar a planear e evoluir seus pensamentos sobre a mão. Digamos que você segure A-Q, que não acertou nada no flop, e fez uma continuation bet que foi paga no flop. Obviamente você deve pensar sobre o range de seu oponente e os tipos de mãos com as quais ele faria esse call. Porém, você deve pensar também nas streets futuras. Neste tipo de situação você deve pensar em específico nos tipos de mãos que lhe permitem atirar um second ou third barrel. Aqui você deve considerar como cada carta afectará como seu oponente vê seu range e como isso afecta a mão. Por exemplo, digamos que um rei venha no turn. Contra um jogador padrão que não pensa activamente esta é uma carta boa para apostar novamente, e também no river, já que na maioria das vezes ela não terá ajudado o seu oponente, mas pode certamente ter acertado sua mão. Atirando novamente é mais complicado em board´s com muitos draws, já que você deve preparar um plano para cartas que completam o draw. Por exemplo, se o flush draw aparecer você pode apostar novamente e representar o flush? Será uma aposta com credibilidade? E quanto do range de seus oponentes é formado de flush draws?

Claro que há uma infinidade de situações que você pode encontrar, mas a idéia é ter certeza que você está pensando ativamente e planeando para as cartas que podem vir, para estar sempre um passo à frente de seus oponentes.

Para voltarmos a onde começamos, é uma boa pensar se há um bom jogador atrás de você enquanto joga. A qualquer momento ele pode aparecer e perguntar “O que você fará se o flush vier no river?” ou “E se o cara shovar?”. Quanto mais destas perguntas você for capaz de responder, maior é a sua capacidade de planear a mão e pensar activamente durante sua sessão – e você se tornará um jogador mais completo.


in Universidade do Poker

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